21/05/2013

Serendipidade? wtf...

Em uma das discussões de riscos, um diretor comentou sobre a prática de descobrir coisas legais durante a execução da estratégia e gerar resultados diferentes e até melhores dos pretendidos inicialmente. Achei super interessante porque é o inverso de mitigar riscos, uma das faces da gestão de riscos.. a outra é identificar e explorar oportunidades. Isso me lembrou o termo serendipidade que vem de “serendipity”, uma palavra inglesa criada pelo britânico Horace Walpole em 1754 em referência ao conto persa infantil “Os três príncipes de Serendip”. [spoiler] Neste livro, 3 irmãos partem em uma viagem para ganhar uma formação cultural a pedido do pai, mas graças às suas capacidades de observação e sagacidade acabam solucionando vários problemas das cidades locais durante o caminho e foram reconhecidos, no final, como sábios em vez de bons aprendizes.

Serendipidade acabou sendo uma palavra que designa a habilidade de ter a mente aberta a novas ideias, perceber as oportunidades e saber como explorá-las. Não é sorte. Não é tentativa e erro. É sabido que muitas descobertas científicas são feitas por acaso. William Beveridge, em seu livro Seeds of Discovey, distingue três diferentes tipos de descobertas casuais: intuição a partir de justaposição de idéias, intuição do tipo eureka e serendipidade. Na ciência tem até um axioma sobre isso:

“No campo da observação, o acaso favorece apenas as mentes preparadas”

Muitas das descobertas do nosso tempo, como por exemplo, a Penicilina, o Raio X, a Aspirina, o Viagra, o Nylon, o Teflon, o Velcro e os "Post-it" foram casos de serendipidade;

Então, a serendipidade pode ser uma vantagem competitiva... como seria possível sistematiza-la nas empresas?

Uma boa proposta está no livro "OEfeito de Medici" de Frans Johansson que diz ser possível quando se consegue "cruzar campos, disciplinas e culturas diferentes tornando possível combinar conceitos já existentes num grande número de novas ideias extraordinárias". Acho que vem daí a importância de ter gerentes de projetos capazes de integrar disciplinas e pessoas e gerar resultados.

Outra boa fonte e tudo a ver com o livro citado acima está na rede social Quora com a pergunta "Can you engineer serendipity?":

 A resposta que está lá é do futurista Ross Dawson que diz que é possível, sim. Ele indica que para isso é preciso ter o desenho de uma estrutura de rede de trabalho cujos nós (pessoas) tenham uma probabilidade maior de se conectarem harmoniosamente entre si. Ou seja, não basta colocar as pessoas em ambientes de trabalho menores e populados, o que pode levar ao aumento de distração e conflitos que geram grande improdutividade. Em um nível limitado, a engenharia pode ser feita expondo consistemente um pool de pessoas entre si. E também, trazendo pessoas de fora. O que é importante é o grau de similaridade dos nós (pessoas) para que haja conexões harmônicas, são muitas dimensões que incluem similiaridades de perfis como interesses, aspectos de personalidades, experiências profissionais, etc. A engenharia está em testar e ajustar os diferentes níveis de similaridades, obsevar e descobrir os que geram maiores resultados de serendipidade dentro de um contexto particular.

E parece que isso não é nenhuma novidade.


Em fevereiro deste ano, a empresa Yahoo desistiu do Home-office e pediu para que todos os seus funcionários retornassem aos escritórios. As razões tiveram menos a ver com produtividade e muito mais com serendipidade. O memorando da empresa teve uma mensagem clara: “Algumas das melhores decisões e inspirações partem das discussões nos corredores e cafeterias, ao conhecer novas pessoas, e reuniões de equipe improvisadas.”

No mesmo dia, a empresa Google forneceu detalhes do seu novo projeto de ampliação da sede em Mountain View. O projeto, um complexo enorme, prevê que nenhum funcionário fique mais de 2,5 minutos de distância a pé de outro. São cerca de 13 mil funcionários... O engenheiro David Radcliffe disse que a ampliação começou "não com uma visão arquitetural, mas com uma visão da experiência de trabalho" dos funcionários no local. Vários prédios terão jardins e espaços de encontro nos terraços, cafés gourmets, mesas de bilhar, boliche e academia de ginástica. "Desenhamos isso de dentro para fora. Como resultado, o layout foi feito para maximizar as ‘colisões casuais da força de trabalho’", explicou Radcliffe. Google já é uma empresa reconhecida pelos seus escritórios enxutos, mas é interessante que isso acontece para ganhos de produtividade e não por redução de custos.


“Eu quero que cada gerente nosso passe 10 a 20% do seu tempo fora do escritório, liderando a equipe” – disse Mr. Hsieh da Zappos onde os escritórios se encontram densos para que as pessoas esbarrem uma nas outras. “Quando as pessoas se movimentam para mais longe, isso reduz muito o contato”.

 
Todos os funcionários destas empresas estão mapeados em redes sociais o que torna mais fácil fazer a engenharia de serendipidade... e não duvido que essa seja a intenção deles.

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