27/11/2008

A Navalha de Occam

"Pluralitas non est ponenda sine neccesitate"

"A pluralidade não deve ser colocada sem necessidade."

William of Ockham (ca. 1285-1349).

Filósofo inglês medieval e monge Franciscano, excomungado pelo Papa João XXII.

A navalha de Occam era um principio muito presente na filosofia medieval, e seu nome é devido ao fato de William of Ockham a utilizar frequentemente.

A navalha de Occam é tambem chamada de "principio da parcimônia" ou "princípio da economia". Ela pode ser interpretada como

"entre 2 teorias que explicam igualmente os mesmos fatos, a mais simples é a melhor"

ou

"não multiplique hipóteses desnecessariamente."

No mundo da Filosofia, a navalha de Occam é o principio frequentemente usado por Filósofos da Ciência num esforço de estabelecer critérios de escolha de uma entre várias teorias com igual valor explicatório.

Os Filósofos da Ciência orientam que quando der razões explicativas para algo, não postule mais que o necessário.

Um exemplo clássico do uso deste principio pode ser visto na discussão histórica em torno da estabilidade do Universo:

Isaac Newton estava convencido de que os planetas não poderiam permanecer imutavelmente em suas órbitas sem a interferência de Deus. Imaginava o Universo como um relógio, o qual Deus teria posto em movimento na Criação e que precisava ser corrigido de tempos em tempos. Sem Deus agindo como um relojoeiro celeste, calculara Newton, os planetas, acabariam arrefecendo seu movimento devido às mútuas influências gravitacionais, desviando-se de suas órbitas até colidirem entre si.

Foi somente um século depois de Newton, que Laplace mostrou, com a ajuda de métodos matemáticos de aproximação, que se os planetas não se desviavam de suas órbitas era porque as interferências gravitacionais entre eles se compensavam e anulavam-se a longo prazo.

Quando indagado por Napoleão sobre por que Deus estava ausente de sua teoria, Laplace respondeu:

"-Sire, não precisei desta hipótese."

Laplace havia aplicado a "Navalha de Ockham" à sua cosmologia. Entre as teorias, uma exigia a existência de uma superentidade e a outra apenas fenômenos observados. Laplace escolheu a segunda, aquela com o mínimo de suposições necessárias para explicar todos os fatos observados, ou seja, aquela com o menor número de "razões suficientes".

O polêmico Von Daniken podia estar certo quando dizia que era perfeitamente possível que extraterrestres tenham ensinado antigos povos na arte e na engenharia. Mas, ao aplicar a Navalha de Occam vemos que não precisamos postular visitantes extraterrestres para explicar os feitos desses povos. Bastava apenas não subestimar a inteligência daqueles seres-humanos baseados no que restou após centenas de anos.

Por que postular pluralidades desnecessariamente?

Atenção: Como todo princípio científico mal compreendido e vulgarizado pela repetição, a Navalha de Ockham se tornou um bordão utilizado indevidamente por leigos e por céticos ansiosos demais em descartar explicações incomuns. Não seja assim! Não deixe de considerar as hipóteses.

Note que a Navalha de Occam não diz que quanto mais simplória a hipótese, melhor.

O principio original parece ter sido invocado num contexto de uma crença na noção de que a perfeição é a própria simplicidade. Não é isso!

Quando se diz que a teoria mais simples é a correta não se quer dizer que a teoria mais fácil de se entender é a correta. Em primeiro lugar porque

simplicidade é um critério pessoal e subjetivo.

e

A natureza certamente não tem vocação para a simplicidade.

Na verdade, à medida que nos aprofundamos nos conceitos, ocorre justamente o contrário e as explicações tornam-se cada vez mais complexas. É preciso compreender que a Navalha de Ockham não trata de descartar hipóteses só porque são mais difíceis de entender. O que ela propõe é que se descarte as hipóteses que em igualdade de condições com outras, possuem mais suposições ou mais pressupostos, já que quanto mais suposições, maior a chance de que alguma delas esteja errada.

Sendo assim, o princípio da economia de Ockham se revela uma diretriz, não uma regra; uma indicação de qual caminho seguir, não um sentido obrigatório; ou seja, apenas bom senso sistematizado, que no fundo é tudo do que trata o método científico.

O fundamento de tudo disso está no pensamento dos medievais e dos gregos antigos. Pois, tal como eles, atualmente a maior parte das nossas disputas não são acerca do principio, mas do que conta como necessário.

2 comentários:

Anônimo disse...

eu percebo um vínculo mto forte deste princípio no trabalho do designer. um designer, quando elabora uma marca, reúne um emaranhado de informações que aparentemente estão soltas na cabeça do seu cliente. ele segue em frente com sua pesquisa de formas, cores e objetos que tenham ligação essas informações. qdo a quantidade de material, ou de hipóteses, é suficiente, o desiner concentra energia para trazer à tona um símbolo extremamente simples, que contém somente aquilo que é essencial para representar toda a filosofia da empresa. é neste momento que a empresa encontra a sua identidade e consegue ter presença na cabeça dos seus cliente. como o bom exemplo do símbolo da Mercedes-Benz, que na sua simples estrela de 3 pontas (terra, céu e mar) consegue representar toda a imponência da empresa frente seus concorrentes.

Rafael E. disse...

excelente analogia com projeto!