25/09/2008

O que o trouxe aqui não o levará adiante (resumo do artigo original)

Marshall Goldsmith é um dos coaches mais bem-sucedidos entre os mais célebres dos EUA.

Seu livro "O que o trouxe aqui não o levará adiante: como as pessoas de negócios bem-sucedidas podem se tornar ainda mais bem-sucedidas" [What got you here won’t get you there: how successful people become even more successful] mostra o poder da estratégia de Goldsmith que reside em sua simplicidade. Não há fórmulas extravagantes para se tornar um chefe melhor, nenhum artifício terapêutico, nenhum método secreto ou técnicas patenteadas. Não há parábolas longas de gente mexendo em queijos ou icebergs que derretem.

Na verdade, se nos desvencilharmos de todo linguajar corporativo depararemos com uma verdade notável: O que o trouxe aqui não o levará adiante não é, na verdade, um livro para empresas. É um livro de etiqueta.

Mais centrado no comportamento interpessoal básico do que em técnicas refinadas de administração, o insight básico de Goldsmith é de que boas maneiras são sinônimo de boa administração.

Um companheiro tácito para o livro de Stephen Covey, "Os sete hábitos das pessoas altamente eficazes", o livro de Goldsmith é estruturado em torno dos maus hábitos que impedem as pessoas extremamente bem-sucedidas de serem mais bem-sucedidas ainda.

O autor observa que, em um certo nível profissional, nem a inteligência nem as habilidades explicam o fato de que algumas pessoas continuem a progredir enquanto outras estacionam em determinado patamar e dali não saem. O que diferencia uma da outra, diz ele, nada tem a ver com as habilidades de cada um, sua experiência e seu preparo — mas tem tudo a ver com seu comportamento.

Os maus hábitos de cada um

1. Vencer sempre: a necessidade do indivíduo hipercompetitivo de ser melhor do que os outros “está na base de quase todos os seus problemas comportamentais”.

2. Agregar valor demais: o indivíduo não consegue se conter e fica o tempo todo tentando melhorar idéias perfeitamente viáveis de seus colegas ou subordinados. “É extremamente difícil”, observa Goldsmith, “para as pessoas bem-sucedidas, ouvir de outros alguma coisa que elas sabiam sem com isso passar uma mensagem do tipo (a) ‘eu já sabia disso’ e (b) ‘há um jeito melhor de fazê-lo’.” A falácia desse tipo de comportamento é que, embora possa melhorar um pouco a idéia, reduz drasticamente a dedicação do outro a ela.

3. Ser muito crítico: “Não é correto criticar quando se pede a alguém que dê sua opinião [...] mesmo que você faça uma pergunta e concorde com a resposta. Elimine a crítica desnecessária”.

4. Fazer comentários destrutivos: todos somos tentados a nos comportar de maneira insensível ou mesquinha de vez em quando. Contudo, quando sentirmos o desejo de criticar, deveríamos ficar atentos para o fato de que comentários negativos gratuitos podem interferir em nossa relação de trabalho. “A questão, na realidade, não é saber se isso ou aquilo é verdade ou não, e sim se vale a pena.

5. Sempre começar uma frase com “Não”, “Mas” ou “Contudo”: se prestarmos atenção, “veremos como as pessoas impõem essas palavras aos outros para ganhar ou consolidar seu poder. Veremos também como as pessoas ficam tremendamente ressentidas por causa disso, conscientemente ou não, e o modo como esse comportamento sufoca a discussão, em vez de promovê-la”.

6. Dizer ao mundo como somos inteligentes: “Essa é outra variação da nossa necessidade de vencer.”

7. Falar quando se está nervoso: ver número 4.

8. Negatividade, ou “Deixem-me explicar por que isso não vai funcionar”:Comportamento de “negatividade pura e sem adulteração, porém disfarçada pelo desejo de ajudar”.

9. Reter informações: Até mesmo as pessoas mais bem-intencionadas fazem isso o tempo todo. “Agimos desse modo quando estamos ocupados demais para repassar a alguém informações importantes. Agimos assim quando delegamos uma tarefa a nossos subordinados mas não gastamos tempo com eles mostrando exatamente como queremos que a tarefa seja executada.”

10. Deixar de reconhecer o mérito de alguém: “Este comportamento é primo do anterior.”

11. Exigir crédito por algo que não fizemos: Faça uma lista de todas as vezes que elogia a se mesmo durante o dia. Depois, passe em revista a lista para ver se merecia mesmo tanto crédito.

12. Dar desculpas: fazer isso de forma ríspida (culpando o trânsito por nossas falhas, ou a secretária, ou qualquer coisa que não seja nós mesmos) e sutilmente (através de comentários autodepreciativos sobre como costumamos sempre nos atrasar, ou adiar os compromissos, ou perder o bom humor. Em outras palavras: “É assim que eu sou”).

13. Apegar-se ao passado: “Entender o passado é perfeitamente admissível se o que está em jogo é aceitar o passado. Mas se você está preocupado em alterar o futuro, entender o passado não vai ajudá-lo nessa empreitada.”

14. Privilegiar os favoritos: esse tipo de comportamento cria bajuladores; premiar bajuladores cria líderes superficiais.

15. Recusar-se a pedir desculpas. “Quando você diz, ‘Sinto muito’, você ganha aliados, e mais do que isso, ganha parceiros.” 2

16. Recusar-se a ouvir: ‘Pouco me importa o que vai acontecer a você’; ‘Não compreendo você’; ‘Você está errado’; ‘Você é um idiota’, e ‘Você está desperdiçando meu tempo’.

17. Deixar de expressar gratidão. “A gratidão não é um recurso escasso, tampouco um recurso caro.É tão abundante quanto o ar. Nós a inspiramos, porém nos esquecemos de expirá-la.” Goldsmith aconselha a quebrar o hábito de nunca agradecer, agradecendo, e ao maior número possível de pessoas ao nosso alcance, sem nunca cansar.

18. Castigar o intermediário: esse hábito é um híbrido sórdido dos números 10, 11, 19, 4, 16 e 17, com uma forte dose de ira misturada.

19. Passar adiante a responsabilidade: Trata-se de um atributo negativo tão importante quanto qualidades positivas como capacidade mental, coragem e inventividade.”

20. Uma necessidade excessiva de “me” colocar no centro: fazer “dos nossos vícios virtudes” porque expressam quem somos resulta em lealdade equivocada.

Goldsmith inclui ainda:

- obsessão pela meta ou, um envolvimento em um grau tão elevado pelo cumprimento de uma meta que acabamos perdendo pé da razão pela qual trabalhamos tanto, e o que de fato vale a pena na vida.

- Fim do feedback (mais preocupado com um passado que não volta, com uma ênfase crítica) e início do feedforward (lições que nos permitem construir um futuro melhor, e que nos chegam sob a forma de conselhos úteis sobre coisas que podemos mudar).

O segredo do sucesso corporativo é trabalhar em harmonia com os outros. Se isso lhe parece sabedoria de jardim de infância, é porque é isso mesmo.

Os reality shows da televisão que apresentam competições profissionais dramatizam a verdade básica do argumento de Goldsmith. É o caso de O Aprendiz, de Donald Trump. Com muita freqüência, esse tipo de programa mostra que, na verdade, o que impede as pessoas de talento de progredir em suas carreiras é uma incapacidade básica de jogar — ou trabalhar — limpo.

Os indivíduos talentosos que aparecem nesses programas são tão competitivos que não cooperam com os colegas. Eles são tão cheios de si mesmos, que não ouvem seus clientes.
Relutam tanto a dar o devido crédito aos outros, tomando-o para si indevidamente, que acabam alienando possíveis aliados e parceiros.

Em vários episódios, um programa depois do outro, vemos profissionais, de modo geral brilhantes, inovadores e capazes, fracassando estrepitosamente porque se recusam a ouvir, a compartilhar, nunca dizem obrigado e se recusam a dizer que sentem muito.

É por isso que esses programas, tão sedutores aos egos das pessoas por suas promessas de progresso profissional, dedicam tanto tempo a desafios que giram em torno do trabalho de equipe. A estruturação dos programas em torno de empreendimentos participativos deixa claro como a necessidade de vencer pode levar o indivíduo à derrota.

Marshall Goldsmith – Wharton University



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