03/09/2008

Teoria do Conhecimento - parte I

Um dos pontos que mais presentes no Mundo Corporativo são as crenças enraizadas nas pessoas que compõem uma empresa. Esse enraizamento é a fonte de todas as resitências às mudanças, à insistência no erro da prática cotidiana, a banalização de coisas não produtivas e a confusão de arrogância por conhecimento. O respeito pelas crenças de cada funcionpario, o reconhecimento das crenças verdadeiras e a habilidade de mudar mentes para um fim produtivo é algo fundamental de todo líder e agentes de mudanças. Para isso, é extremamente importante conhecer a Teoria do Conhecimento. Esse texto é o primeiro de uma série que irá passar por todas as teorias discutidas pelos grandes filósofos que estão ao nosso alcance.
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Toda pessoa tem a sua crença.
Quase todo mundo acredita que o mundo é redondo, que possui um nariz e um coração e que 2 + 2 = 4. Mas, também há os que se discordam:


Algumas pessoas acreditam que há um Deus e outras, não.
Muita gente boa acredita que a medicina convencional é a melhor maneira de lidar com todas as doenças. Outras pessoas, também boas, não acreditam nisso.
Alguns estudiosos acreditam que existe vida inteligente pelo universo, outros, não.

Quando as pessoas discordam, normalmente, trocam argumentos e provas e tentam persuadir-se mutuamente. Com uma certa frequência acabam-se ofendendo.

"Isso é maior mentira!!!", "Só vc para acreditar nisso!!!", "Isso é vc que está dizendo!"...
Nas argumentações, é difícil alguém dizer "Isso é verdade", "Agora, tenho boas razões para acreditar", "Então, passarei a acreditar nisso".

Uma vez dentro de uma discussão com argumentos, é lógico que queremos que as nossas crenças sejam verdadeiras em vez de falsas; queremos ter boas razões em vez de más para acreditar nelas.

A teoria do conhecimento ocupa-se destas propriedades, da diferença entre crenças boas e más.

A sua importância na filosofia tem origem em duas fontes, uma construtiva e outra destrutiva.

A fonte construtiva é que os filósofos cansados em acreditar em mitos e "achismos", tentaram encontrar as melhores formas de obter verdades. Daí, por exemplo, que surgiu o famoso método científico para que se pudesse chegar a maior possibilidade de se ter algo verdadeiro. O racionalismo, o empirismo e o bayesianismo, são filosofias construtivas desta espécie.

A fonte destrutiva é que os filósofos frequentemente se viam dentro de conflitos entre dois sistemas de crenças. Por exemplo, as pessoas religiosas tentam encontrar razões filosóficas para acreditar em Deus, e as pessoas anti-religiosas da mesma forma tentam encontrar razões filosóficas para mostrar que é irracional acreditar em Deus.

A teoria do conhecimento ― ou epistemologia ― está igualmente envolvida na tentativa de encontrar melhores formas de adquirir crenças tomadas como verdadeiras e de criticar as que já são creditadas como verdadeiras.

Um ideal epistemológico muito simples é o da coerência, isto é, ter crenças que não apenas têm individualmente sentido, mas que se ligam num padrão com sentido.

Por exemplo:
"Eu acredito que todos os gatos são inteligentes!" "Eu acredito que todo animal é estúpido". Deu para perceber que as minhas crenças são incoerentes. Não podem ser todas verdadeiras, e a partir de algumas delas posso dar boas razões para discordar de outras.

Muitas vezes as pessoas se enganam. Veja só:

Uma mãe recebe notificações da escola do filho dizendo que ele se mete em lutas quase todo o dia. Ela fica sabendo pelos próprios professores que todos na escola têm receio dele. Sabe inclusive que muitas outras crianças estão proibidas de brincar com ele. Ela, a mãe, ainda assim, procura e encontra motivos para enganar a si mesmo e crer que o seu filho é um anjinho amoroso: as crenças de tal pessoa não são coerentes.

Algo que o ser-humano já aprendeu é que não dá para exigir coerência nas crenças de mães para com seus filhos, não é?

No Mundo Corporativo por que razão deveremos querer que as nossas crenças sejam coerentes?
Uma das razões é que as crenças incoerentes têm tendência para incluir muitas crenças falsas o que pode levar todos para uma desilusão, pois um dia a realidade chega para todos.
Outra razão é que crenças incoerentes não se sutentam. São difíceis de defender perante pessoas bem informadas que as desafiem ou ataquem.

Assim, a coerência é um ideal que devemos ter sistematicamente em todos os nossos pensamentos, crenças, projetos e filosofias.

Isto não significa que todas as nossas crenças serão sempre totalmente coerentes.
Todos nós estamos sempre sujeitos a maus raciocínios e auto-enganos. Somos assim. Mas é um ideal direcionador que podemos tentar realizar.

Note que esse mesmo ideal pode ser um direcionador inverso, pois momentâneamente podemos procurar não seguir a coerência, de forma a ter ideias novas e interessantes.

Na próxima parte, falaremos dos conceitos básicos da Teoria do Conhecimento.

3 comentários:

Anônimo disse...

outro ponto q deve ser levado em consideração neste embate de crenças é a questão do poder. qdo um grupo detém poder suficiente, pode facilmente transformar uma incoerencia em algo verdadeiramente sustentavel. tal incoerencia pode vir a se tornar a crença de uma infinidade de devotos, os quais entorpecidos, jamais perceberiam o erro. num plano geral entao, a incoerencia afeta a vida de todos, principalmente a vida dos que a entendem como absurdo. nada pode ser feito contra isso. o poder de uma serie de fontes de informacoes da mesma linhagem dificultam um movimento perfeitamente coerente. a coerencia é antagonica ao capitalismo. o capitalismos necessita da incoerencia. é um sistema q acumula e concentra riqueza ao inves de distribuir racional e sustentavelmente. e isso vc pode pensar em todos os ambitos. os grupos se formam dentro de empresas, dentro de igrejas, dentro de faculdades, dentro de um infinidade de instituiçoes. o poder faz um deus existir. a partir do momento q 99% do planeta crê e vive em funçao de um deus, isso, sendo incoerente ou nao, se torna uma verdade. uma verdade q afeta a vida de todos, quer sejam crentes ou nao.

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

"Seria verdade, se Aristóteles não negasse"

Na sua luta para impor o critério da verificação experimental, Galileu teve que combater teólogos e também filósofos aristotélicos. Os primeiros negavam as descobertas que contrariavam os ditados da Biblia, e o segundos negavam as mesmas verdades que contrariavam as doutrinas científicas (as melhores até então) de Aristóteles. Os resultados finais eram idênticos, mas os pressupostos diferentes.

O "fechar os olhos" diante de uma prova experimental são comportamentos bem reais, somente explicada, segundo Galileu, por uma inata tendência da psque humana à deferência gregária em relação ao poder e à autoridade. (para mais, leia os textos Diálogo sobre os Dois Máximos Sistemas do Mundo - de Galileu)