10/09/2008

Teoria do Conhecimento - parte II

João tinha uma reunião com Sabrina que é loira. Mas, Sabrina enviou um e-mail à última hora dizendo que não poderia ir mais à reunião. O Jorge ficou furioso e concluiu que todas as loiras são más profissionais. Isto é particularmente estranho uma vez que a sua gerente e uma colega de setor, que sempre o trataram com muita gentileza, são loiras. Mas, daquele dia em diante, por muito amigável, delicada ou prestável que uma loira fosse, Jorge interpretou sempre o seu comportamento como ruim.

Eis uma crença irracional. Não tem origem no pensamento cuidadoso, mas num impulso súbito e irritado que continua a agarrá-lo. E para piorar, algumas pessoas julgarão até como uma crença louca e estúpida, embora o Jorge possa não ser nem louco nem estúpido. Coisas à toas, geram verdades que podem ocasionar impactos enormes. Imagine o caso do João ser um Diretor de RH envolvido em uma promoção da Sabrina?

Ah, a Sabrina não foi à reunião porque amigos (incluindo aí o Presidente da empresa) fizeram uma festa surpresa e "mentiram" dizendo que ela deveria comparecer a uma reunião extraordinária com o Presidente, por acaso, na mesma hora da reunião de João...

Geralmente, os profissionais filósofos são os primeiros a destrinchar as crenças, pois eles:
  • se baseiam, primeiramente, nas provas disponíveis e, mesmo assim, deixam em aberto possibilidades que não são eliminadas por essas provas.
  • sabem que crenças racionais não costumam ser compostas por palavras do tipo "todos..." ou "nunca...".
  • apesar de reconhecerem que há a possibilidade da crença corresponder a uma verdade, ela não deixa de ter a possibilidade de ser irracional. Talvez, o que falte seja alguma prova ou uma boa formulação de idéias e raciocínios. Da mesma forma, nem toda crença racional é verdadeira, apenas tem mais chances de ser.
  • observam as provas com um fim: ela somente existe se consegue persuadir as pessoas a acreditarem na crença a qual sustenta.
  • acreditam que mesmo sem provas, uma crença pode se sustentar observando os passos de um raciocínio e com argumentos hipotéticos ("suponha que...").
  • se perguntam se a crença é justificada, se é algo melhor para conseguir a verdade do que a sua recusa.
Nós ignoramos muitas coisas: há muitas perguntas para as quais não sabemos as respostas. Certamente, na sua empresa, não existe um funcionário que conheça a solução de todos problemas corporativos; Nas livrarias, encontramos muitos autores que possuam opiniões racionais e, até, justificadas para isso. Mas, não quer dizer que qualquer uma dessas opiniões seja considerada um conhecimento racional e justificado. Para saber a solução de todos os problemas, uma pessoa teria de ter uma teoria ou uma receita poderosa que estivesse claro o resultado. Isto faz o conhecimento parecer muito especial e raro.

"Exemplos são a física que explica que a Terra gira em torno do Sol e a matemática que diz que 12 multiplicado por 13 é 156."

Antes da Física e da Matemática nenhuma destas explicações era uma verdadeira definição.
Havia nelas demasiados termos vagos e inexplicados.

O ponto importante a compreender agora é que tudo o que foi dito até aqui pode ser usado para descrever características desejáveis e indesejáveis, boas e más, das nossas crenças.


Vou exemplicar apenas uma definição tirada da análise de crenças do profissional filósofo :


É possível obter-se um bom resultado através de um método ruim; Pode-se chegar a uma crença verdadeira por um raciocínio irracional.


Há muitos exemplos destes na história da ciência. Por exemplo, William Harvey no século XVII formulou a teoria de que o sangue circula no corpo deixando o coração pelas artérias e voltando pelas veias. Mas, Ele chegou a esta conclusão ao pensar: o coração é como o Sol e o sangue é como a Terra, logo, uma vez que a Terra gira em torno do Sol, o sangue deve girar em torno do coração. Este raciocínio não é lá muito convincente, para ser generoso, mas levou-o a uma conclusão verdadeira.

Da maneira inversa, um resultado ruim pode ser obtido por um método bom. Por exemplo, considere uma cientista que testa um milhão de amostras de uma droga numa dúzia de espécies animais e não encontra quaisquer efeitos secundários. Na ausência de provas contrárias, ela concluiu que a droga é inofensiva. Mas, pode ter o caso em que as condições dos animais mudem, como por exemplo, a alimentação. Por uma escassez qualquer, os animais passam se alimentar de um fruto que combinado com a droga se torna fatal. O juízo justificado da cientista era falso.

Seja filósofo em suas crenças.

(continua)

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