30/07/2008

Diógenes, o Cínico

Hoje, ser chamado de cínico é um insulto. E também era no mundo grego antigo. Só que era algo como ser chamado de cachorro, cão, sujo, animal.

E assim eram conhecidos os "discípulo de Antístenes". Primeiramente porque o local das aulas de Antístenes era um ginásio chamado Cinosarges. Já era suficiente para o povo fazer o trocadilho e chamar os alunos de cínicos.

Antístenes, discípulo de Sócrates, viu o seu mundo cair após a morte de seu mestre e a queda de sua cidade, Atenas. Então, adotou uma vida simples e entre os pobres trabalhadores, se distanciando do meio aristocrático do qual estava acostumado. Abriu uma escola filosófica em um ginásio fora de Atenas, onde pregava a superioridade da virtude e a inutilidade das coisa materiais. Felicidade, em seu ponto de vista, não tem nada a ver com prazer ou riqueza, mas sim com a pureza da alma e a liberdade de não se sujeitar à tirania dos desejos.

Antístenes conquistou seu quinhão de pupilos, entre os quais destacou-se Diógenes, o qual seguiu a filosofia à risca, o que chocou as pessoas, pois ele mal tomava banho, se vestia de trapos, comia alimentos degradantes, morava numa tina de barro e fazia atos obscenos publicamente. E na visão deles, Diógenes era o verdadeiro cínico .Cínico vem do grego Kinikos que queria dizer "como um cão". Diógenes e os demais discípulos acharam que o novo trocadilho também caía bem, e se orgulharam ainda mais do termo.

Quando perguntavam à Diógenes o que tinha feito para que o chamassem de cão, ele respondia:

"Costumo fazer festa para quem me dá alguma coisa,
rosnar para quem me rejeita, e cravar os dentes nos crápulas."

Diógenes pregava a conaturalidade entre os homens. A igualdade de todos por natureza. Quando perguntado de que estado pertencia, ele dizia:

"Sou um cidadão do mundo"



Certo dia Diógenes estava tomando sol no Craneu, quando chegou inesperadamente Alexandre, o Grande, e lhe disse:
“Pede-me o que quiseres”.

Diógenes lhe respondeu:

“Não me faças sombra. Devolve meu sol”.

Mais tarde, Alexandre disse:

"Se não fosse Alexandre, eu queria ser Diógenes”.

Mesmo com um grande personagem de poder o admirando, o povo ateniense o achava presunçoso e hipócrita. Sustentar uma idéia ou pensamento diferente de todos que estão à volta é algo muito arriscado, principalmente quando se provoca o choque. Sócrates morreu por isso, Diógenes foi repudiado pelo mesmo motivo.

Porém, os cínicos tinham uma filosofia valiosa que atravessou os tempos. E nos ensinam que nada é mais importante que os princípios que carregamos, principalmente se forem simples, sem preconceitos e universais. Eles devem ser inabaláveis e estensíveis a todos.

Veja o texto abaixo, e confira que qualquer semelhança com as posições corporativas de poder atuais, não é mera coincidência:

"Estava Diógenes jantando seu costumeiro prato de lentilhas, quando Arístipos se aproximou. Arístipos, de Cirene, era também filósofo, adepto do prazer como único bem absoluto na vida. Para poder levar uma vida confortável, vivia sempre bajulando o Rei.

Disse, então, Arístipos a Diógenes:

—Se aprendesses a bajular o Rei, não precisarias
reduzir tua alimentação a um prato de lentilhas.

Por sua vez, Diógenes retrucou:

— E tu, se tivesses aprendido a te satisfazeres sempre com
um prato de lentilhas, não precisarias passar tua vida bajulando o Rei."

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