21/06/2008

SUPER-HOMENS

Nietzsche não constituiu um sistema filosófico propriamente dito, e talvez por isso, muitas interpretações de seus pensamentos se aplicam a várias áreas do conhecimento humano.
A célebre passagem de sua autobiografia "Ecce Homo", na qual Nietzsche proclama-se ser antipolítico, é necessário considerar que, ao se posicionar desta forma, o filósofo está se distanciando não da política em si, mas da política fútil do nacionalismo e estatismo que, a seu ver, tinha acometido a Alemanha de sua época.

A concepção de uma filosofia política nietzschiana nos permite enxergar uma análise e crítica dos valores, da moral, da cultura e da metafísica, na concepção do Estado como promotor de um tipo de homem superior, utilizando como mecanismo a própria cultura.

Mas, dentro de toda essa complexidade filosófica o que gostaria de ressaltar aqui é a noção nietzschiana de cultura – entendida como cultivo do homem superior. Nietzsche inclui e fundamenta o perfil desse elemento norteador descrito como o “super-homem”, vetor da idéia de que para se substituir um valor, outro deve ser criado. Não é uma postura iconoclasta e niilista. É um projeto de construir-se uma realidade. Nesse sentido, se prevê a morte da “ordem social” de cada tempo e a criação de novos valores.

O pensamento político de Nietzsche concentra-se no que ele via como a necessidade de uma ‘auto-superação do homem’: tanto o Estado quanto a cultura devem estar a serviço da criação de um novo tipo de homem.

Esse super-homem contrapõe-se ao "homem de rebanho", o tipo “(...) querido, criado, conseguido: o animal doméstico, o animal de rebanho, o animal doente (...)” . O ideal nietzschiano de super-homem não é invulnerável a críticas, possuindo muitos pontos questionáveis. Porém, como disse o próprio: “Todas as coisas que estão prontas e completas são admiradas; todas as que estão se fazendo são subestimadas” .

O filósofo desqualifica, assim, a idéia de tomar a utilidade coletiva como critério de avaliação e focar na criação de um tipo de homem auto-suficiente, prescindível de Deus, criador de seus próprios valores, sempre se auto-superando, telúrico, espiritualmente forte, sem arrimos externos.

Para Nietzsche, o super-homem “(...) está para o homem assim como o homem está para o macaco”. Ele enfatizava a necessidade do novo homem lidar com a realidade. Ele, o super-homem, “(...) concebe a realidade como ela é: ele é forte o bastante para isso – ele não é a ela estranho, dela estranhado, ele é ela mesma, ele tem ainda em si tudo o que dela é terrível e questionável, somente então pode o homem possuir grandeza...”

O valor de um indivíduo é, portanto, determinado em função da cultura e, para o filósofo, o indivíduo pode receber ‘o mais alto valor’ e a ‘significação mais profunda’ vivendo a serviço dos mais raros, mais valiosos tipos humanos, e não para o bem da maioria.


O conceito de super-homem pode ser trabalhado de forma bastante interessante quando levamos para o Mundo Corporativo. Na busca por líderes que empreendem esforços orientados à transformação constante e à criação de novos valores, a alta gestão da Empresa tem como missão colaborar para que funcionários super-homens sejam não mais obra do acaso, exceção, mas sim um tipo desejado, ainda que o mais temível, pois são fortes e independentes.

É nesse sentido que podemos entender a política não como um fim em si mesma, mas como um meio para a produção da cultura e da grandeza humana, por meio da perpétua auto-superação e da criação do tipo desejado, o super-homem.

Como gerar funcionários que possam proporcionar o mais alto valor e a mais profunda significação para a Empresa? Formando líderes que trabalham a serviço dos melhores e mais valiosos funcionários da empresa, e não espalhados nas áreas corporativas, com objetivos parcos, subutilizando-os.

Atualmente, ós líderes seniores atuais têm nitidamente o princípio da conservação. É a sobrevivência o que interessa, e não o máximo impulso vital, tornando-os tipos medíocres, animais de rebanho, que apenas ‘sobrevive’, pois é isso o que lhe interessa.

A ‘autoconservação’ não deve ser o motivador dos líderes. Todo líder deve trabalhar não para se conservar, mas para se tornar ‘mais’, numa vontade referente ao desejo que toda coisa viva tem de crescer, expandir-se e desenvolver-se, auto-superar-se.

É nesse cenário que deve ser incluída a estratégia para se criar o que se denomina de ‘cultura superior’ que apenas é viável onde haja diferenças entre os homens, inclusive possibilitando-se que alguns dediquem-se a trabalhos mais laboriosos e outros ao verdadeiro ócio.

Certamente não é uma fórmula agradável de se ouvir, para nós modernos, mas ela é sublinhar em nossas relações: é o que acontece, por exemplo, nas relações entre pais e filhos, em que os pais, por desejar a evolução intelectual e profissional dos filhos, permitam que estes fiquem no ócio durante a adolescência, para que se dediquem à nobre tarefa de estudar, abdicando do labor.
Para isso, é imprescindível que a alta gestão:

  • identifique funcionários candidatos a Super-Homens;
  • valorize-os de tal maneira que contribua para a sua formação específica e criação do perfil desejado;
  • tire-os das atividades continuadas e de rotinas;
  • invista em suas educações continuamente;
  • atribua-os atividades à serviço das pessoas mais valiosas da empresa;
  • ofereça metas, objetivos e projetos que gerem valor à empresa;

Friedrich Wilhelm Nietzsche nasceu a 15 de outubro de 1844 em Röcken, localidade próxima a Leipzig. Criança feliz, aluno modelo, dócil e leal, seus colegas de escola o chamavam "pequeno pastor"; com eles criou uma pequena sociedade artística e literária, para a qual compôs melodias e escreveu seus primeiros versos. Em 1858, Nietzsche obteve uma bolsa de estudos na então famosa escola de Pforta. Excelente aluno em grego e brilhante em estudos bíblicos, alemão e latim. Partiu para Bonn, onde se dedicou aos estudos de teologia e filosofia, mas, influenciado por seu professor predileto,desistiu, dedicando-se à filologia. Nietzsche foi atraído pelo ateísmo de Schopenhauer, sobretudo pelo significado metafísico que atribui à música.
Em 1880, Nietzsche publicou O Andarilho e sua Sombra: um ano depois apareceu Aurora. Em 1882, veio à luz A Gaia Ciência, depois Assim falou Zaratustra (1884), Para Além de Bem e Mal (1886), O Caso Wagner, Crepúsculo dos Ídolos, Nietzsche contra Wagner (1888). Ecce Homo, Ditirambos Dionisíacos, O Anticristo e Vontade de Potência só apareceram depois de sua morte.

3 comentários:

Anônimo disse...

Muito boa adaptação dos conceitos nietzschenianos ao mundo organizativo!
Entretanto, isso exige do alto escalão da empresa o comprometimento com mudanças estruturais complexas, que são difíceis de conseguir no curto, médio prazo e até no longo prazo. Acho que o que foi muito bem colocado nesse post é o ponto "dos líderes que empreendem esforços orientados à transformação constante e à criação de novos valores". Vejo essa como a grande mensagem do texto, pois líderes empreendedores me fazem pensar em gerenciamento de projetos. Líderes que criam novos valores, seja desenvolvendo novos talentos ou produtos e serviços, também me remetem aos conceitos de gerenciamento de projetos. O profissional que pode agir dessa maneira, mesmo dentro de uma organização com os diversos problemas culturais mostrados no texto, é sim o gerente de projetos. Um exemplo disso é que equipes de alto desempenho podem existir em diversos tipos de organizações. Elas se organizam, geram o resultado e se dispersam novamente. Talvez não precisemos mudar cultura, e sim encontrar os recursos certos e o patrocínio adequado.

Unknown disse...

Obrigado pelo comentário. É verdade, vejo essa figura no Gerente de Projetos. É um perfil acostumado às mudanças, e inquieto por natureza própria. Cada projeto, único, novos valores, novas considerações. Sempre há espaço para a auto-superação.

Anônimo disse...

Percebo isso claramente ligado à cultura organizacional das empresas. Infelizmente e incrivelmente, as empresas nacionais usam do "paternalismo" para buscarem seus líderes. Cria-se uma cultura de "pagamento de dívidas" por aqueles que trabalharam por anos na "casa", seguindo fielmente os códigos conservadores... Em multinacionais o cenário é outro. Talvez haja conhecimento sobre os pontos observados no texto ou, claramante, haja aplicação da cultura daqueles que as conceberam. Ou seja, foco no resultado a partir de idéias e realizações.